PIADAS
1966: ─ Um piritibano amigo, experiente em questões de administrações municipais
e manejo com dinheiro público, passando comigo na rua da bica comentou:
“A renda deste municipio no ano passado, excedeu de oitenta e três milhões de
cruzeiros. E a única realização que se vê é este calçamento desta rua”. “Uma
tristeza!”
1967: ─ Um vereador amigo me diz: “A renda municipal no ano passado Che-
gou a cento e quatro milhões e oitocentos e tantos cruzeiros.” E continuamos sem
edifício de prefeitura, sem matadouro, sem mercado, sem estradas, sem nada! “Muni-
cipio infeliz!”
Março, 1967: ─ alguem me mostra um folheto num português a grosso modo, por-
tuguês de carroceiro, escrito não sei por quem e assinado por nosso “amigo” prefeito,
Osvaldo Paulino Vitoria, “o invencível.” Li-o, apesar das velha e sábia advertência de
Vitor Hugo de que não se lê imbecilidade inpunemente. Trata-se de uma relação
de obras imaginárias, rotuladas de “relatório apresentado à câmara de vereadores e ao
povo em geral”, o que é mentira, pois não foi apresentado à câmara e o povo não
o viu, uma vez que tal folheto não está sendo distribuido neste municipio, tendo havido
muita dificuldade para conseguirmos o exemplar que está servindo para este comentário.
Relação de obras imaginárias para uso externo. Para inglês ver...
Parece que nosso “amigo” Osvaldo se meteu a fazer piadas com coisa séria! Pri-
meira piada: que não aplicou as dezenas de milhões em “obras de vulto,” por culpa da
oposição! Vejamos isto no português aleijado do folheto:
“Obras de grande vulto não podemos enumerar, infelizmente, no decorrer do ano
que se finda, graças ao grande êxito que logrou, em parte, os ferrenhos adversários.”
(Os grifos são meus).
Tambem o não pagamento do 13º mês de salário aos funcionários deve ser por
culpa dos ”ferrenhos adversários” que logrou mais este exito... Os funcionários te-
rão dito lá com os seus botões: “Esta não!”
Outra piada: ─ A culpa do escandaloso fracasso de sua administração, não é dê-
le, é de Lomanto Junior. Diz:
“Mais um ano passou e o Snr. Governador do Estado nada propicionou em benefi-
cio de Mundo Novo.” (O grifo é meu: confesso que não conheço verbo propicionar.)
A piada da assistência médica e dentaria: ─ sempre que se aproximava uma elei-
ção, êle fazia algumas visitas com médico e dentista aos distritos. Mas passada a
eleição... “é Cuma lá se diz: tampa a mala, Luís!” Pergunto: depois da última elei-
ção, quantas visitas com médico e dentista foram feitas aos distritos? Respondo: ne-
nhuma! Chamar tais visitas de vésperas de eleições, “assistência médica e dentária,”
Só pode ser uma piada de mau gosto. Como é de mau gosto aquela piada do jipe
que não consta do folheto. Mundo Novo em peso sabe que nosso “amigo” Osvaldo
tem um jipe de seu uso particular por êle comprado ao nosso amigo “Vicente do Arroz”
que o ganhara num bingo. Pois bem: entre os comprovantes de despesas dos mi-
lhões da Prefeitura, há recibos num total de oitocentos e tantos mil cruzeiros, de “tra-
balhos” prestados ao municipio por um jipe de propriedade do Snr... “Vicente do
arroz!” Para “justificar” o sumiço de tantas dezenas de milhões, deve haver muito re-
cibo dessa marca!
E outra piada repugnante que tambem não consta do folheto para uso externo, é
a piada da “casa de misericórdia” que não é “Casa de Misericórdia.” Na opinião de
Eneas Pinto, a mim expressa várias vezes, essa farsa de “casa da misericórdia,” não pas-
as de uma organização de comércio clandestino e drogas, fazendo uma concorrência ile-
gal, desleal, imoral, ás farmácias locais.
As piadas das pontes e conservações de rodagens! Diz que fez ponte de cimento
e madeira na rodagem do Inday. E não diz o que é que fez da ponte prá cá e da
ponte pra lá. Fez nada! Diabo de nada! Ninguem passa a carro na ponte por-
que a rodagem de Inday se acabou!
E quanto á conservação da rodagem para Umbuzeiro, eu convidaria o DERBA para
passar, mesmo a jipe, pela ladeira do Engenho e baixa do Socego! Uma vergonha!
Quanta mentira para uso externo no tal folheto! Meu pobre milionário Mundo Novo!
Certamente nosso “amigo” Osvaldo nunca ouviu falar em Abraham Lincoln. Que
tome conhecimento agora de sua existência, por estas palavras de Lincoln, que lhe envio:
“Poderás enganar alguns por muito tempo; poderás enganar a muitos por algum
tempo; mas não poderás enganar a muitos por muito tempo.”
E... basta. A sabedoria popular recomenda que não se deve gastar muita cera
com defunto “runhe”.
MUNDO NOVO, 10-3-967.
EULÁLIO MOTTA.
A folha mede 215 milímetros de largura por 315 milímetros de altura. O papel é de baixa gramatura, alta lisura e apresenta bom estado de conservação, apenas pouco amarelado. O texto foi impresso em prensa de tipos móveis e o layout é simples com pouca variação de tamanhos e tipos de letras, linhas longas sem espaço especial entre parágrafos. Há dois exemplares desse panfleto.