AGORA É ALEGRIA!


Agora que o ronco dos motores de construção da “Estrada do feijão” está se
aproximando dos ouvidos da cidade, de nossa cidade, de nosso Mundo Novo; agora
que a alegria esperada está deixando de ser esperança para se tornar realidade é
interessante lembrar palavras faladas e escritas no tempo em que as promessas eram
feitas mas não eram cumpridas.
Palavras faldas: em discurso de saudação ao então Governador Lomanto
Junior, em janeiro de 1967, na Associação Rural de Mundo Novo, lamentavelmente não
terrmos tido a prioridade do asfalto, uma vez que, dizíamos, aqui é o caminho de
Irecê, aqui é a estrada do feijão. Foi a primeira vez, salvo engano, que surgiu esta
denominação de “Estrada do feijão.”
Palavras escritas ─ em crônica publicada sob o título de “Esperanças apaga-
das,” em 7-4-67: “Aquêle “Slogan” de “Feijão na lapela” despertava esperanças
na gente de meu município: porque por aqui passa a “Estrada do feijão,” o caminho
do celeiro que é Irecê. Mas não é só Irecê, não é só feijão; é o milho, é o arroz,
é a farinha, é o leite, é o café, é a mamona, são as frutas variadas: mangas, la-
ranjas, limas, limões, abacates e bananas. São as lavouras de Tapiramutá, de Piri-
tiba, Mundo Novo, Monte Alegre, Rui Barbosa, Baixa Grande, Macajuba, Ipirá. E
principalmente: as boiadas gordas de Mundo Novo, Rui Barbosa, Monte Alegre, Ma-
cajuba, enfim: de toda esta zona de intensa produção; boiadas que continuam via-
jando a cascos para o abate em Salvador!
“A cascos, perdendo centenas de arrobas em cada boiada! “A cascos, como
na era dos carros de bois! “A cascos, nesta era do asfalto!
“Aquêle “slogan” do “Feijão na Lapela” nos dava a esperança de prioridade
para o asfalto. “Porque, por aqui, repito, passa a “Estrada do feijão.”
“A fita do asfalto passaria por aqui e busca destas riquezas em suas fontes,
para os grandes mercados consumidores do Estado e do País.
“a suinocultura de Irecê não ficaria mais sem preço, sem compradores para
essa produção, os cereais de toda esta zona rica não apodreceriam nas fontes de
produção. “As boiadas seriam transportadas como as de Minas, em poucas horas en-
vez de muitos dias, em veículos modernos envez de penosas, longas e tristes ca-
minhadas a cascos. A esperança sorria em nossas almas, iluminava os nossos co-
rações. A “esperança do povo”...
“Depois ... o que vimos foi um derrame de bilhões para uma fita de asfalto
no deserto! “Onde não ha feijão, não ha milho, não ha arroz, não ha frutas, não
ha leite, não ha boiadas! “Louvado seja Deus! “O asfalto Joazeiro-Feira é uma
insanidade!”
Basta de transcrições. Porque não é hora de “esperanças apagadas.” É hora
de alegria do asfalto chegando e a esperança da luz de Paulo Afonso iluminando
novas esperanças! O asfalto no escuro, o asfalto sem a energia de Paulo Afonso er-
guendo indústrias em nosso chão, seria alegria incompleta. Mas a presença desse
extraordinário realizador Antonio Carlos Magalhães no Governo do Estado, é mais
do que esperança, é certeza de que a alegria que Luiz Viana Filho e o próprio
Antônio Carlos Magalhães nos deram com a “estrada do feijão,” não ficará incom-
pleta. Certeza que não só de Mundo Novo, é também de Monte Alegre, Piritiba,
Tapiramutá, Baixa Grande, de toda esta região fertilíssima da bacia do Paraguassú
que viveu esquecida dos poderes públicos, marginalizada até o advento de Luis
Viana Filho, o melhor Governador que a Bahia já conheceu.
Com fundamento nesta certeza é que afirmamos: Agora é alegria!


Mundo Novo, (Bahia) 2 de julho de 1971

EULÁLIO MOTTA
A folha mede 165 milímetros de largura por 300 milímetros de altura. O papel é de alta gramatura, baixa lisura e de acidez acentuada, ocasionando o amarelamento. O texto foi impresso em prensa de tipos móveis. O layout explora diferentes tamanhos se fonte, inclusive no corpo do texto. Há pouca variação de tipo de letra, as linhas são longas e há espaço especial entre os parágrafos. O título foi bem destacado, ocupando a largura da mancha escrita. Foram preservados quatro exemplares desse panfleto no acervo do escritor.